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A Tuberculosa

Domitilla Carvalho

 

 

Domitilla de Carvalho

 

 

 

 

Vem doente, caminha de vagar,
Que a tosse, que não tarda, vem por certo
Despedaçar-lhe o peito. E o fim é perto
E ela não tem pressa de chegar…

Umas olheiras roxas, na açucena
Tão branca, do seu rosto descorado,
Dão-lhe um aspecto triste e macerado
Duma tristeza funda que faz pena…

O nariz a aguçar-se lentamente.
Mais cavadas as faces. A macia
E linda pele que as cobre, dia a dia
Nos parece mais fina e transparente.

E que fraquito o seu corpinho exangue!
Mal pode já lutar a pobrezinha
Contra a morte que dela se avizinha
A desfazer os seus pulmões em sangue.

Os lábios entreabre numa prece,
E volve para nós os olhos puros,
— Uns olhos que se tornam mais escuros
Na palidez da face que emagrece—

«Não sei o que isto é. Esta canceira,
Uma tosse maldita, muito frio,
E depois muita febre. E um fastio.
Nada posso comer por mais que o queira

Um grande peso, aqui dentro do peito
Que nem posso tomar respiração .
Certamente é qualquer constipação!»
E esboçou um sorriso contrafeito.

Numa anciedade cheia de agonias
Ela espera a mentira piedosa
Que leve alguma luz cariciosa
Aquelas primaveras tão sombrias.

Mas vendo a hesitação, o tom magoado
De quem lhe fala triste e comovido
Arrisca uma pergunta num gemido
«Senhor doutor é coisa de cuidado ?!»

Domitilla de Carvalho, 1917

 

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